Entrevista ao Presidente

Esta primeira entrevista da época, foi precisamente feita a um dos grandes obreiros deste Clube e do desporto em Carviçais, Francisco Braz, jovem Presidente da Direcção do Académico, que aceitou prontamente responder resumidamente às questões relacionadas com estes assuntos, pois pormenorizadamente, teriam que se gastar umas horitas. Mas que ficava receptivo e disponível como sempre, para aprofundar com alguém mais interessado.

Como se deu a tua chegada ao desporto Carviçaense? - Assim como o meu “carviçaleirismo” surgiu quase totalmente por afinidade, após matrimónio contraído em 1994 nesta terra, sendo portanto uma aquisição como alguns me designam, muito embora a minha bisavó fosse daqui de Carviçais, também a minha chegada ao desporto surge nesse seguimento, após convite formulado pelo meu cunhado, Nuno Salgado, que fazia parte da direcção da ACDR, para dirigir os destinos da equipa numa possível participação no Campeonato Distrital de Futsal. E aceitei o desafio!...

Participa-se então no Campeonato Distrital? - Exactamente, após reunião com as partes competentes, tendo eles aceite a única condição que lhes propus, de ter-mos autonomia total na gestão da Secção de Desporto, com uma conta à parte, prevendo já futuros falatórios de que a Banda nos sustentaria, como viria a acontecer mais tarde por parte de alguns leigos desconhecedores da realidade, passando a elaborar e aprovar na Secção de Desporto, os Planos, Orçamentos e Contas de Gerência de cada ano, que posteriormente apresentávamos e entregávamos à respectiva Direcção da ACDR, isto até meio do ano de 2001. Assim, acabamos por participar pela primeira vez na história do desporto em Carviçais, numa prova federada do desporto nacional, na Época de 1996/1997, no Campeonato Distrital de Futsal; ainda me lembro de ter de adiantar na altura a verba necessária para as inscrições, 159 contos, pois se foi exigida conta à parte, teve que se partir do zero. Seguiram-se depois as de 97/98, 98/99, 99/00 e 00/01, até que surgiu o Clube, e se dá a transferência do desporto para lá, continuando a participar-se mas com designação diferente.

Surgiu o Clube Académico de Carviçais? - Sim, o clube, ou outra associação, começa a surgir como hipótese, numa altura em que se verifica que se estava a perder o acesso a vários programas e subsídios que a Associação em si já ia buscar, podendo com uma outra, ir-se ao mesmo local buscar também alguma coisa, mas noutro nome, e também quando começa a haver determinada contestação acerca da gestão da ACDR em si, com muito falatório, relativamente à não apresentação nem divulgação de contas acerca de determinados eventos realizados. Ora nós como sempre lhes apresentámos as nossas, e não as podendo expor directamente, víamos nos assim alvos integrantes no mesmo. Então, após reunião com o Presidente da ACDR, na altura Adriano Menino, chega-se a acordo para se criar outra associação, com a passagem do desporto para lá (inclusive com ele a fazer parte dos Corpos Gerentes, da Assembleia Geral no caso), mais a inclusão do ambiente, que não havia, e a jamais interferência com a música. Das ideias passou-se ao acto, e no dia 10 de Julho de 2001, foi com enorme alegria que três sócios fundadores, Francisco Braz, José Topete e Abílio Rei, foram ao Cartório Notarial de Torre de Moncorvo com o objectivo de outorgarem a escritura pública de constituição do Clube Académico de Carviçais. E foi assim que nasceu o Académico de Carviçais! Aliás como se pode constatar mais detalhadamente no próprio site, na extensão, Académico, Clube.

Já no Académico continua-se a participar nos Campeonatos? - Claro que sim, pois se é um dos objectivos traçados pelo Académico, e também pela continuidade do desenvolvimento desportivo em Carviçais, participando-se nos escalões possíveis.

É do conhecimento geral que acumulas as mais diversas funções no Clube? - Realmente é verdade, desde Presidente, Treinador, Roupeiro, Massagista, Delegado aos jogos, à limpeza das instalações, costumo exercê-las todas, e, com a mesma vontade e o mesmo vencimento de há quase 13 anos, quando me iniciei no dirigismo associativo desportivo, sempre em regime de voluntariado, claro. Ultimamente, nos jogos em casa alguns adeptos até têm brincado um pouco comigo, exibindo uma tarja a solicitarem o meu ordenado. "Chico dá-nos o teu ordenado!" Por isso é que eu costumo dizer que quando vier outro, seja ele de onde for, aquisição ou não, que consiga fazer no mínimo tanto quanto eu já fiz, em prol do Clube e desta minha terra! 

Depois de tantos anos, havendo eleições em 2009, pensas continuar? - Ainda é muito cedo para falar nisso, mas posso dizer, que quando me meti nisto, há 13 anos atrás, sempre disse que o meu sonho seria pôr o Carviçais a jogar em casa, poder um dia jogar em Carviçais no seu Pavilhão; aí faria mais uma época e sairia dando lugar a outros. Depois quando o sonho começou a mostrar ter pernas para se concretizar, comecei a pensar que teria primeiro que tratar também da Sede, o que ficou já alinhavada com o Pavilhão, pensando concluí-la até final do mandato. Agora até lá veremos, pois isto do futsal, só mesmo quem o vive, torna-se num vício muito forte; para mim pelo menos é cada vez mais, embora, mesmo deixando aqui hoje, por certo conseguiria continuar ligado à modalidade de alguma forma ou nalgum lugar; e por vezes já tenha perdido momentaneamente a vontade, pelas injustiças que se ouvem e o não reconhecimento por parte de várias pessoas que nada merecem e nada fazem em prol do engrandecimento da terra, mas talvez sejam essas alturas e as vozes por vezes escutadas que me dêem mais força e coragem para continuar por mais tempo, muito embora os apoios sejam cada vez mais escassos e isto tudo me ocupe bastante tempo, que é roubado a casa e à família principalmente, tempo este que não tem preço, ainda por cima confrontado com o facto da minha esposa pouco ou nada ligar à bola; pior ainda! Ah, não esquecendo agora já, também um potencial candidato a atleta que possuo em casa neste momento, e esse verdadeiro carviçaense. Portanto depois a seu tempo se verá, mas de certeza que a continuar será sempre com a continuidade e a garantia de uma grande equipa a acompanhar-me como até aqui sempre esteve.

Fala-nos da grande obra conseguida, do Pavilhão? - Simples, curto e directo: é como ver nascer um filho e criá-lo. E da forma como se processou, foi um sonho transformado em realidade, que felizmente poderia aqui explicar passo a passo, ano a ano, custo a custo, pois tudo está registado, o que se foi conseguindo no decorrer dos anos, com muitas peripécias à mistura, para hoje se poder chegar lá cima e olhar para aquele valor patrimonial implantado na nossa terra, em Carviçais. Pois por mais voltas que se dêem, um dia acabaremos mesmo por dar o lugar a outros, e outros a outros, e outros a outros que virão, e ele continuará lá, para utilização e património de Carviçais.

Já alguma vez pensaste poder ser-lhe associado o teu nome? - Não! Embora alguém deitasse o repto na altura, eu fui o primeiro a dizer logo que não concordava, pois não sou apologista desse tipo de homenagens em vida das pessoas, para além de ter associado a mim todos os que me acompanharam até aqui nessa grande luta. E mais! Para ficar ligado a esta obra, já estava, pois ninguém me consegue tirar a minha ligação, sendo sempre lembrado por isso, como o são outras pessoas na terra por outras boas e enormes causas. É Pavilhão Desportivo do Académico de Carviçais.

Quanto à equipa de futsal, que objectivo? - O nosso objectivo passa sempre, em cada época que participamos, além da propagação da modalidade e do bom nome de Carviçais, pela obtenção da melhor posição possível na tabela classificativa, sendo muito difícil, dadas as circunstâncias actuais, fazer muito melhor do que o que se faz, pois eu costumo dizer que o Académico é uma equipa especial, pela ausência semanal da maior parte dos atletas para poderem treinar assiduamente como as restantes o fazem, pelo que se podem até orgulhar das posições que se vão obtendo, por norma a meio da tabela, exceptuando o ano da subida do Mogadouro que ficamos logo a seguir.

Tendo cá poucos jogadores, porque não ir buscá-los fora? - É uma questão que parece fácil, mas não o é assim tanto como julgam, pois posso afirmar que ainda este ano o Mogadouro, na 2.ª divisão nacional, prestes a subir à 1.ª, me sugeriu um protocolo no sentido de me colocarem cá 4 ou 5 jogadores e eu conhecedor que poderia fazer um campeonato muito bom, disputando os primeiros lugares, descartei desde logo a proposta, pois teria que mudar completamente a estrutura e mentalidade deste clube e pôr de parte as linhas por que sempre nos regemos na utilização dos atletas. Porque aqui sempre se deram todas as oportunidades, primeiro aos da terra e só depois aos de fora, condicionados ainda por diversos factores; pois só serem bons jogadores não chega; além de terem que ser melhores que os de cá, mais importante ainda, que se integrem e encaixem bem no nosso balneário, ver se entram no nosso ambiente, pois foi sempre uma das coisas boas que tivemos e se calhar o grande motor do sucesso de tantas participações; um excelente balneário e espírito de equipa. Daí se ver pelo actual plantel, 14 atletas, 9 da terra e 5 de fora, dos quais 1 já com 9 épocas de Carviçais, nunca conhecendo outra equipa, que considero como se fosse de cá, 1 com quatro, 2 com duas e somente 1 estreante. Claro que não estando presentes para poderem treinar e faltando a vários jogos, condicionados pelas suas vidas profissionais, a quem sempre disse que estavam em primeiro lugar, é com grande esforço, amor e dedicação que ainda hoje se deslocam ao fim de semana para poderem vir jogar por esta equipa da sua terra, com a agravante de ainda hoje o fazerem como no início, exclusivamente à sua conta própria, pois é uma das coisas que durante estes anos todos se conseguiu sempre, nunca precisar de se dispender um chavo que fosse para um qualquer vir jogar. Tudo isto tem o seu valor. Aliás não tem preço sequer! E em muito mais me poderia alongar aqui a contar. É pois essa a nossa mística! E podem crer que aqui ela vive-se!

Finalizando: para os adeptos, sócios e simpatizantes? - O seu apoio é incondicionalmente muito importante e positivo, embora ache que poderia ser em número muito mais elevado, visto que se passou a jogar em Carviçais, o que anteriormente não acontecia; mas também entendo que por vezes as circunstâncias profissionais da vida não atingem só os jogadores, que acompanho mais de perto; pois ainda me lembro dos primeiros anos, em que o pessoal acompanhava a equipa, e, de certeza que se pudessem estar e governar as suas vidas em Carviçais, certamente não nos faltariam com o seu apoio, como pude até constatar há dias atrás num jogo realizado durante as férias, em que foi muito bom rever vários apoiantes de outros tempos presentes novamente. Assim com cada vez menos jovens e de média idade na terra, sem dúvida aqueles do maior apoio, agradeço a todos os que ainda conseguem marcar presença nos jogos e apoiam semanalmente o nosso Académico. Um grande abraço a todos e desde já os meus agradecimentos em nome de toda a equipa.

Viva o Académico! Viva Carviçais!